03 dezembro 2011

Inovação e Estratégia

Por: Vitor M. Trigo
vitor.trigo@gmail.com
http://lugaraopensamento.blogspot.com/




A inovação quando vai ao encontro das necessidades dos mercados materializa comercialmente a invenção. Vai, portanto, para além desta constituindo-se como vantagem competitiva sustentável.

Os negócios sempre dependeram da inovação. Os estudos sobre organizações de sucesso indiciam que os resultados operacionais de maior relevo estão associados a estratégias que estimulam a criatividade, e que passam pelo alinhamento entre visão, estrutura, e disponibilidade de meios – a estratégia inovadora deve ser esculpida no modelo de negócio, na definição de mercados alvo, e em apropriadas tácticas de actuação. Mais, todo este processo deve ser continuamente avaliado e adaptado às diversas envolventes em jogo. Por fim, mas não despiciente, todos os níveis da estrutura devem cooperar, de forma consistente, na implementação desejada, através do perfeito conhecimento dos papéis reservados a cada função.


Gerar inovação


Nas organizações com fins lucrativos, a inovação espontânea é acidental. As empresas quando querem explorar a inovação como vantagem competitiva sustentável tratam-na como sistema frágil que é, carente de alimentação contínua e cuidada, e elegem-na como factor crucial da gestão.

A visão cartesiana de tratar as partes para promover o todo, como metodologia, não se aplica. O sistema tem de ser globalmente entendido e requer gestão criativa, sistemática e proactiva da organização global, de acordo com o papel de cada componente. Numa empresa complexa, que concebe produtos e os comercializa, podem identificar-se diferentes níveis de participação:

• Nível I – Concepção, desenvolvimento, e construção dos produtos;
• Nível II – Logística que suporta as funções do Nível I;
• Nível III – Gestão operacional de primeira linha;
• Nível IV – Nível executivo (de topo), responsável pela definição de valores, políticas, objectivos de longo prazo, e estratégias.

É sobre esta estrutura que actua o Sistema de Gestão da Inovação, preocupando-se com questões como o desenvolvimento dos graus de confiança, clima de construtiva honestidade e salutar convivência cooperativa, e disponibilidade de informação permanentemente actualizada sobre os parceiros de negócio (fornecedores, clientes, concorrentes). É desta forma que se torna clara e evidente a ligação da inovação com as oportunidades de mercado, tornando-se inequívoca a focalização da organização, e de todos os seus membros, no cliente.


Estimular a criatividade


Se a inovação é importante para a organização, então todo o seu sistema de gestão deve reflecti-lo, e os gestores têm de pautar as suas actuações em conformidade. O primeiro passo a dar é assegurar que entre as habilidades (skills) dos gestores se encontra a motivação para o desenvolvimento e estímulo à criatividade. A Gestão pelo Exemplo adquire estatuto de imprescindibilidade.

A cultura organizacional pode ser um óbice. Culturas fortes e tradicionais (“Isto sempre deu resultado, e vai continuar a dar”) podem inviabilizar os desígnios inovadores. Entre os principais pilares, que podem tornar-se obstáculos, contam-se:

• A flexibilidade é fundamental, e os seus mais perigosos inimigos são o perfeccionismo e a micro gestão. Posto de outra forma, metas circunstanciais e objectivos com futuro podem, com facilidade, tornar-se conflituantes. Um outro entrave habitual é a pressão financeira orientada para o curto prazo;
• Formação e desenvolvimento são indispensáveis. Não se pode encarar esta componente com perda de horas de trabalho e despesa – trata-se de investimento. A formação transversal assume grande importância no entendimento da razão de ser de toda a estrutura;
• Comunicação é factor crítico. Mesmo uma excelente estratégia se não for bem comunicada arrisca ser incompreendida, quando não boicotada.


O poder da informação


O excesso de informação pode ser prejudicial, até pela perda de tempo que acarreta e pela desconcentração que provoca. Mas, a falta de informação também pode ser nefasta. Há, por isso, que tratar de organizar a informação. Critérios a seguir?

• A informação deve ser estruturada de acordo com a estratégia, e deve ser capaz de crescer com ela;
• Um roteiro possível será a segmentação de acordo com os mercados;
• Toda a informação supérflua ou desactualizada deve tornar-se arquivo morto;
• O critério mais importante para classificação da informação é a utilidade;
• Devem estabelecer-se nível de segurança (poucos) e quem os pode usar;
• Todo o sistema deve ser simples, claro, e de fácil manutenção.


Suportar e premiar os inovadores


Numa organização que quer ser inovadora, a inovação deve ser estruturante na definição de políticas e práticas. Tal significa que todos os intervenientes têm uma palavra a dizer sobre o assunto, em particular, os que detêm responsabilidades sobre gestão de pessoas – chefes directos e departamento RH. Eis um guião de auto avaliação que permite augurar bons resultados:

• “A minha actuação respeita sempre os valores preconizados sobre confiança, clareza, flexibilidade, equidade, sinceridade, e honestidade?”;
• “Apoio e defendo a formação como investimento?”;
• “Premeio a ousadia, aceito o erro, apoio iniciativas não directamente produtivas?”;
• “Encorajo a cooperação e apoio a resolução de problemas?”
• “Desafio as práticas instituídas pelo departamento HR?”;
• “A minha equipa sente-se estimulada para a criatividade?”;
• “ Na minha equipa a competição é exclusivamente prática de exterior?”

Este roteiro podia e devia ser mais abrangente. Mas a ideia principal é enaltecer os benefícios da auto reflexão. Um gestor conservador e acomodado jamais poderá liderar equipas inovadoras. Ao contrário, mata-as.


Liderar a inovação


Já referi os perigos da análise excessivamente discreta dos modelos, tornando muitas vezes restrita ou impossível a visão de conjunto. Uma forma eficaz de acompanhar o desenvolvimento dos processos inovadores é a utilização de ferramentas Balanced Scorecard, que permitem análises cruzadas de objectivos de negócio, desenvolvimento de pessoal, situação financeira, e conformidade estratégica.

A indispensável visão holística torna a gestão de empresas inovadoras ainda mais complexa, essencialmente porque muito mais dinâmicas. Sem dúvida. Mas as vantagens competitivas sustentáveis podem nascer como cogumelos.

Na Era do Conhecimento não explorar de forma sistemática o conhecimento, a criatividade, e a inovação, não faz qualquer sentido.

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