02 dezembro 2011

Inteligência Colectiva

Por: Vitor M. Trigo
vitor.trigo@gmail.com
http://lugaraopensamento.blogspot.com/



Inteligência Colectiva – o que é?

Por vezes oiço dizer: “Esta organização é mesmo muito inteligente”. Julgo que a frase equivale a “O comportamento desta organização é normalmente inteligente” ou algo equivalente, pois as organizações não têm comportamentos – evidenciam resultados. Se estes forem bons, aprovamos e admitimos que resultam de iniciativas inteligentes. Se forem maus, não hesitamos em apelidá-los de estúpidos, ou algo pior.

Ora, a grande vantagem das organizações é o aproveitamento sinergético das inteligências individuais envolvidas, ou seja, que a resultante evidencie mais do que a soma das inteligências parcelares. Faz todo o sentido, portanto, reflectir sobre Inteligência Colectiva como um dos construtos mais promissores em ambientes complexos e multidisciplinares, que se tornaram norma a partir do momento em que os clientes, aqui mencionados em sentido lato e não só mercantil, passaram a recusar as peças e exigir soluções.

O conceito de Inteligência Colectiva surge assim como uma forma de inteligência que emerge da colaboração e competição de vários indivíduos, situando o seu estudo na sociologia, nas ciências computacionais, e nos comportamentos grupais.


Qual o impacte da Inteligência Colectiva?


Cada vez mais, mesmo questões aparentemente elementares sugerem conhecimentos e capacidades multifacetadas e pluridisciplinares – numa palavra trabalho em equipa. Os rasgos (insights) individuais continuam a ser fundamentais, sem dúvida, e pensar o contrário seria ignorar uma parte crucial da condição humana, com um custo a pagar deveras significativo.
Mas, em ambientes grupais, a capacidade de produção de novas ideias pode alcançar níveis tais que ultrapassem as melhores estimativas do grupo, e até as expectativas dos próprios indivíduos emissores, muitas vezes surpreendidos com as suas próprias ideias. Esta é uma óptima imagem do que significa o termo Inteligência Colectiva, que pode ser importante nexo causal de dramáticos incrementos nas performances organizacionais.

Nesta perspectiva a Inteligência Colectiva encerra e potencia superiores níveis motivacionais (a paixão pela tarefa é um bom exemplo), sentido de propriedade (ownership), e auto-estima individual e colectiva.


Inteligência Colectiva e Pensamento em Grupo


Pensamento em Grupo (Groupthinking) pretende descrever o esforço grupal na procura de consensos que permitam a aproximação de posições divergentes e ao entendimento colectivo que possa suportar a obtenção dos objectivos finais.

Inteligência Colectiva, por seu lado, é o fenómeno que explica que ideias nunca antes consideradas, passem a ser partilhadas por outros membros, após a sua expressão, por todos os elementos da equipa.


Inteligência Colectiva em ambiente de mudança


Assim sendo, e uma vez aceites tamanhas virtudes, coloca-se a questão: Como será possível apoiar e incrementar a Inteligência Colectiva no sentido da mudança, da criatividade e da inovação, sem que o habitual Pensamento em Grupo, eminentemente lógico, vertical, e orientado para o curto-prazo, interfira negativamente no ambiente de pensamento lateral e complementar, como diria Edward de Bono?

A solução passa pela confiança e pelo compromisso. Só níveis superiores de confiança libertam ambientes que facilitem a livre expressão de ideias e opiniões e a interpelação e desafio constantes da verbalização alheia. O compromisso, que neste contexto não pode ser confundido com nenhuma espécie de resignação, submissão ou obediência, refere-se aos contractos psicológicos que interliga os membros no sentido de consciencialização do interesse colectivo, dos valores complementares que cada um aporta e da dependência de todos em relação a todos – “Se é bom para o grupo, é bom para cada um de nós”.


A Inteligência Colectiva como estado de espírito


A Inteligência Colectiva só encontra espaço para progredir no seio de equipas reais, e não em grupos circunstanciais. O papel do líder torna-se assim fundamental. Sempre que, na formação dos grupos, existirem de forma clara interesses e objectivos partilhados, respeito mútuo entre os membros e interdependências bem conhecidas e aceites, estarão reunidas as condições para o florescimento da Inteligência Colectiva. E uma vez experimentada, esta dinâmica não terá limites.

A Inteligência Colectiva não é um processo funcional, nem um estado de espírito exclusivamente racional. Lida com relacionamentos intra e interpessoais, comportamentos, atitudes e outros atributos que se encontram no domínio do que se costuma designar por Soft Skills, de entre os quais releva a Inteligência Emocional.

Ao líder do grupo competem as cruciais contribuições de eliminar as primeiras barreiras de confiança, a criação do espírito de grupo e a contínua alimentação do prazer pelo desconhecido, pelas novas ideias, pela aceitação da divergência e da contestação, pela relativização das opiniões, e pelo primado dos interesses em prejuízo das posições.

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